segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Ela sai à rua, frio vento nórdico e eis que lhe cai o cabelo.
O motorista que adoeceu e cai-lhe o cabelo.
São longos minutos e nem um táxi surge e logo hoje que lhe cai o cabelo.
É o autocarro, chega para lá, é difícil do alto dos 10cm de salto e cai-lhe o cabelo.
É o metro sem lugares vagos, é um aroma a que não está habituada e cai-lhe o cabelo.
São crianças que choram, é o cheiro a laranja, são encontrões são gritos e telefones que não se calam e cai-lhe o cabelo.
- Tem uma moeda? É só uma moedinha que ainda não comi hoje - cai-lhe o cabelo.
Junto à porta da empresa do alto dos seus 10cm, ela que entra sempre pela garagem não sente, não vê, grita para a secretária a seguir.
- Quem é o fulano que pede esmola à porta?
- É o sr. António, está lá desde que está desempregado, pede para sustentar a família?
- E como sabe você tudo isso?
- Ele era o porteiro até que o despediu, à dois anos.
- Está ali à dois anos? Chame a policia eles que resolvam, não o quero ali. - Cai-lhe o cabelo.
- Sim, eu ligo para eles virem cá. Já agora Drª tem uma reunião dentro de 5 minutos. Piso 2 sala 2.03.
- Reunião? A esta hora? Não posso, precisam mesmo de mim? Não sabem resolver sozinhos?  - Cai-lhe o cabelo.
- Drª são 11:30h, é a reunião mensal do departamento.
- Não quero saber, remarca para as 15h, por favor. - Cai-lhe o cabelo.
- Mas Drª...
- Não ouviste? Já agora liga para o salão, diz que passo lá às 13h, parti uma unha no metro. - Cai-lhe o cabelo.
- Sim, claro é para já. E o almoço, quer que mande vir a sua sopa?
- Liga para o Bistro, estou lá dentro de vinte minutos, e vou pretender saumon avec dés légumes sautés.
- Claro, mais alguma coisa?


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